Luísa Schmidt (coord.), Ana Delicado, João Morais Mourato, João Ferrão, Mónica Truninger, Verónica Policarpo.
Os incêndios rurais são um dos perigos mais relevantes em Portugal.
A resposta política ao problema deu maior prioridade ao combate aos incêndios do que à respetiva prevenção ou à redução da exposição e vulnerabilidade das pessoas. No que se refere à gestão de combustíveis, foi adotada uma abordagem de cima para baixo baseada em disposições legais, que tem fraca aplicação no terreno. O impacto esperado das alterações climáticas e o declínio rural levam-nos a esperar uma severidade crescente do problema caso a atual abordagem política persista. O problema dos incêndios rurais e as suas possíveis soluções têm sido principalmente enquadrados numa perspetiva técnica, que tende a ignorar que a implementação daquelas soluções implica mudar as práticas de milhares de pessoas. Este projeto procura reenquadrar o problema dos incêndios rurais, assumindo que muitas daquelas práticas são racionais no atual contexto. Se assim for, a compreensão das atuais escolhas das pessoas e dos modos pelos quais as políticas podem mudar essas escolhas é crucial para conceber políticas eficazes de redução do risco. A investigação agora proposta visa desenvolver e testar um novo quadro analítico que apoie o desenvolvimento e avaliação de novas políticas centradas nas pessoas para reduzir o risco de incêndio. Este quadro será desenvolvido através da integração disciplinar de 3 áreas de investigação. A primeira diz respeito aos modelos de risco, que integram os principais fatores responsáveis pelo dano total dos incêndios. Muitos destes fatores resultam de escolhas humanas, as quais não são contudo explicitadas no modelo. A segunda área de investigação são modelos de escolha, que visam predizer o que as pessoas escolheriam em determinadas circunstâncias. A integração de modelos de risco e modelos de escolha permitirá ligar diretamente as políticas às escolhas das pessoas, por exemplo em matéria de gestão de combustíveis, que determinam o coberto do solo, o qual, por sua vez, afeta o perigo de incêndio. Esta integração é um dos aspetos mais inovadores desta proposta de investigação. Estes modelos de escolha serão estimados com base em dados provenientes de experiências de escolha realizadas por proprietários florestais, que selecionarão as suas opções preferidas de gestão caso seja aplicada uma determinada política. A ligação entre modelos de escolha e modelos de risco permitir-nos-á simular os custos e o potencial de redução de risco de diferentes opções políticas. Os modelos de escolha não são uma boa opção para explorar novas opções políticas ou para recolher o conhecimento das partes interessadas relevantes. Por isso, a investigação agora proposta atribui um papel significativo ao envolvimento das partes interessadas, no que se refere à compreensão das práticas relevantes para compreender o risco de incêndio, à co-produção de soluções políticas eficazes e à deliberação sobre cenários de política alternativos. Os métodos participativos são pois a terceira área de investigação a integrar. Uma inovação relevante a este respeito é a realização de deliberações das partes interessadas relativamente a cenários produzidos com base em modelos que integram modelos de escolha e modelos de risco, deste modo se combinando abordagens analíticas e participativas. A área de estudo é a região do Pinhal Interior, uma região acidentada em que a floresta e os matos dominam, a propriedade florestal tem reduzida dimensão, a densidade demográfica é baixa e as pessoas vivem em aldeias dispersas num mar de floresta. Esta foi uma das regiões mais fortemente atingidas pelos incêndios de 2017. Este projeto fará avançar o estado da arte sobretudo através da expansão da fronteira interdisciplinar do conhecimento científico sobre incêndios rurais e políticas de incêndios, através da integração das referidas 3 áreas de investigação científica, para além das inovações mais especializadas acima referidas. O principal resultado esperado é um novo quadro analítico para apoiar o desenvolvimento de novas abordagens políticas integradas, centradas nas pessoas, com vista à redução do risco de incêndio. Serão ainda produzidos um dossier de políticas, uma plataforma de apoio à decisão e diversas orientações em matéria de boas práticas de adaptação e de autodefesa de emergência. A equipa de projeto inclui: (1) o parceiro ISA, com ampla experiência em modelação de escolhas, ação coletiva, tipologias de proprietários florestais e análise de políticas nas áreas agrícola, florestal e ambiental; a experiência do ISA permitir-lhe-á liderar o projeto no seu conjunto, promover a necessária integração disciplinar e estabelecer contactos com atores políticos chave; (2) o parceiro IGOT, com ampla experiência em modelos de análise de risco em diversos tipos de desastres, incluindo os incêndios; e (3) o parceiro ICS, com ampla experiência em métodos participativos em muitas áreas de políticas, nomeadamente na adaptação às alterações climáticas e em problemas de ordenamento do litoral.
Estatuto: Entidade participante
Financiado: Sim
Entidades: Fundação para a Ciência e a Tecnologia