Publication associated with project Metropolitan Areas: Experiences, Mobility and Quality of Life
O contexto urbano das áreas metropolitanas agudiza e sublinha os problemas ambientais e de ordenamento do país, ao mesmo tempo que modela muitos dos valores e representações da opinião pública sobre ambiente e qualidade de vida. Nesta perspectiva, o cenário metropolitano constitui-se como um espaço particularmente indicado para analisar as dimensões envolvidas em questões ambientais, no contexto de elevada concentração urbana.
Os dois inquéritos nacionais Os Portugueses e o Ambiente (Observa, 1997 e 2000) proporcionam um conjunto de dados relevantes para o conhecimento da opinião pública relativamente ao ambiente e qualidade de vida. O presente trabalho aprofunda alguns resultados destes inquéritos, nomeadamente aqueles que dizem respeito ao grau de insatisfação dos portugueses com o seu quadro residencial, bem como a percepção do cenário ambiental em que se movem no quotidiano, com especial incidência para os residentes das áreas metropolitanas. As amostras representativas da Área Metropolitana de Lisboa (AML) e da Área Metropolitana do Porto (AMP) do inquérito de 2000, agora analisadas, contribuem para compreender os contornos de influência do espaço de residência/vivência quotidiana na relação dos portugueses com o ambiente. Proporcionam ainda uma abordagem com um enfoque espacial específico – espaços metropolitanos – em que certas tendências dos resultados nacionais ora se acentuam, ora desvanecem.
De facto, a leitura transversal dos resultados, permite identificar uma articulação entre as “variáveis espaciais” e as representações e atitudes face ao ambiente, evidenciando um “mal estar ambiental” quotidiano, sobretudo entre os residentes dos grandes centros urbanos. Sendo assim, parece interessante explorar potenciais tendências de mudança e novos fluxos de deslocação espacial da população, para dentro e fora das áreas metropolitanas; e também
identificar os perfis sociais daqueles que residem nas áreas metropolitanas e revelam uma grande insatisfação especificamente manifesta no desejo de saída e mudança de “habitat”.
Assim, num contexto de “desqualificação urbana” sentido a nível nacional, o presente estudo concentra a sua atenção nos residentes das áreas metropolitanas, onde essa desqualificação é mais sentida. Deste modo, paralelamente a uma dimensão objectiva – indicadores de qualidade do ar, níveis de ruído, qualidade da água, condições de saneamento,
existência de certas infra-estruturas, etc., – existe uma dimensão subjectiva que corresponde ao nível de satisfação das necessidades dos seus residentes, à percepção dessa satisfação (seja a nível económico, social e cultural) e à avaliação das condições de exercício da vida urbana quotidiana, nomeadamente ao nível do uso e usufruto de espaços públicos.
Começamos por apresentar uma caracterização demográfica sumária das áreas metropolitanas realçando alguns momentos de transformação significativos, sobretudo os que contribuíram para um processo de bipolarização em torno das cidades de Lisboa e Porto. Segue-se uma breve reflexão sobre as falhas persistentes no que ao ordenamento do território e ao planeamento urbano do país diz respeito. No terceiro ponto apresenta-se um conjunto de resultados dos inquéritos referidos sobre a sensibilidade dos portugueses a uma série de
problemas ambientais. Estes dados subjectivos – a percepção das pessoas – são confrontados com dados objectivos desses problemas ambientais (na medida em que existam). Define-se assim um cenário quotidiano onde as pessoas se movem a “duas dimensões”: a “objectiva” (factos) e a “subjectiva” (opiniões). Em ambas, como veremos, a “desqualificação da vida urbana” emerge como algo visível e sentido. O quarto ponto reflecte sobre a insatisfação
residencial expressa num conjunto de indicadores – que vão desde os elementos da envolvente da habitação, à manifestação de desejos de um determinado tipo de arredores da residência ou de mudança de local onde se vive. Apresentam-se então alguns dos motivos que justificam que a mudança de local de residência para fora dos grandes centros urbanos e suas periferias não ocorra, apesar de ser tão presente no “discurso de desejo” dos inquiridos. Por fim, desenvolvem-se algumas reflexões e comentários que traçam hipóteses de pesquisa a aprofundar futuramente.