projeto

Data de início: 2003

Data de conclusão: 2004

Sinesbioar

O contexto local seleccionado foi o da região de Sines, envolvendo as duas freguesias que constituem o concelho de Sines e três das que fazem parte do concelho de Santiago do Cacém, devido ao historial desta região enquanto local de instalação de um dos complexos industriais mais ambiciosos do território português.

Não obstante os avanços alcançados em termos da legislação vigente relativa à poluição e acesso à informação ou a progressiva consciencialização e assumpção da responsabilidade social e ambiental por parte das empresas, a história do progresso industrial em Sines ficou marcada por inúmeros incidentes, acidentes, enganos e controvérsias.

Enquanto objectivos principais que nortearam este trabalho podemos avançar dois:

  • em primeiro lugar a procura de compreender a forma como uma população que convive há largos anos
    com um complexo industrial percepciona essa convivência e os potenciais riscos que dela podem
    decorrer, com particular destaque para os possíveis impactes na saúde;
  •  em segundo lugar, explorar a multi-dimensionalidade do conceito de risco, através da procura de
    compreender que variáveis podem influenciar a percepção de risco, como por exemplo, a natureza do
    relacionamento com “os produtores dos riscos”, a confiança ou o acesso à informação.

Neste projecto, pensar no conceito de risco é pensar num conceito multidimensional, onde a perspectiva mais tecnicista de tentar quantificar os riscos, ainda que não totalmente descurada, representa uma ínfima parte e, sem dúvida, uma das menos relevantes. Partimos assim, de uma definição de risco onde a subjectividade e a objectividade se conjugam para procurar compreender a percepção de risco na região de Sines.

Essencialmente, procurou-se conjugar duas grandes correntes teóricas e compreender de que forma elas se expressam nas argumentações apresentadas pelos participantes nesta pesquisa (entrevistados e inquiridos) e nos podem auxiliar na análise da percepção de risco na região de Sines. Por um lado, a sociedade de risco que tem como principal mentor Ulrich Beck, e que assenta numa perspectiva bastante crítica sobre a forma como os riscos são produzidos e geridos na sociedade actual. Segundo esta corrente, os riscos não são apenas um reflexo, ou um efeito secundário de um objectivo de maior grandeza, mas exemplos claros da deslegitimação da racionalidade vigente, quer ao nível das dimensões económicas, quer científicas ou políticas. Por outro lado, a modernização ecológica, entendida como a corrente teórica dominante na forma de interpretar os riscos no presente. Esta corrente teórica assenta de forma muito significativa na ciência, na tecnologia e numa abordagem em que os riscos são  normalizados’ enquanto parte do sistema, ou como incentivo para o contínuo desenvolvimento da ciência, da técnica, da economia e da política. A primeira representa uma ruptura com a racionalidade vigente na Modernidade, a segunda representa, de certa forma, a continuidade.

É a partir destas duas contextualizações teóricas que se vai procurar analisar a forma como as populações da região de Sines percepcionam os riscos no seu quotidiano. Ainda que os riscos mais fácil e imediatamente  percepcionados nesta região possam ser categorizados como riscos tradicionais na sua forma de detecção (estamos a falar da poluição do ar, da água ou mesmo do risco de acidente industrial), isto porque, são relativamente fáceis de identificar a partir do sistema sensorial humano (visão, olfacto), estes possuem características que são menos visíveis e que os permitem classificar em características, actualmente, tidas como associadas a novos riscos.

Publicações associadas ao projecto: “Sinesbioar – implementação de um instrumento multidisciplinar para avaliação e gestão da qualidade do ar e dos seus impactes sociais na região de Sines (Estudos)” e “Projecto SinesBioAr (Diapositivos)”