Em Portugal, bem como noutros países do mundo, tem vindo a ser implementadas políticas públicas para melhorar a alimentação nas escolas, de forma a ajudar a colmatar vários problemas: obesidade infantil, desigualdades sociais, impactos nocivos no ambiente, entre outros. Tendo como enquadramento teórico a perspectiva a-humanista de LEE (2008), inspirada numa sensibilidade semiótica material, e combinando-a com a noção de políticas alimentares
incorporadas de CAROLAN (2011), são abordadas duas questões centrais. Em primeiro lugar, analisam-se os efeitos que as recentes políticas públicas de alimentação saudável têm nas subjetividades alimentares das crianças. Em segundo lugar, analisam-se as múltiplas conexões que as crianças estabelecem com múltiplos espaços e sintonizações alimentares (a rua, a casa, a escola, a pastelaria). O material empírico baseia-se na observação direta realizada numa escola situada num bairro de baixa renda de Lisboa, bem como entrevistas e grupos focais (um com
crianças entre os 7 e os 9 anos de idade, e outro com pais). O paper pretende contribuir para uma compreensão mais ampla das vivências cotidianas das crianças em espaços plurais de consumo urbano, sobretudo quando este é alvo de regulação e normalização pelas políticas públicas de saúde alimentar que subscrevem uma certa ordem de classe. Este trabalho faz parte de um projeto de pesquisa financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal.
Publication associated with Project Entre a Escola e a Família.