publications

Consumo e lixo na sociedade portuguesa: uma evolução histórico-ambiental (1960-2010)

2012

Muitas das práticas de consumo com impactos no ambiente têm um carácter mundano, invisível e inconspícuo. Um dos aspectos invisíveis destas práticas remete para a questão do lixo – o outro lado do consumo – cuja invisibilidade quotidiana se reflecte também na negligência com que os estudos sociais sobre consumo a têm tratado. As preocupações com a sustentabilidade das sociedades contemporâneas tornam crucial analisar o consumo, não só no acto de compra e aquisição (mercado), como também enquanto processo indissociável dos fluxos materiais de produção, uso e desperdício. O objectivo desta comunicação é sublinhar e dar visibilidade à articulação entre consumo e lixo na esfera quotidiana e doméstica dos portugueses, através de uma análise evolutiva de algumas práticas com impactos no ambiente desde os anos 60 (por exemplo, energia, água e alimentação). Sendo Portugal, comparativamente a outros países europeus, uma sociedade de consumo relativamente recente, é também uma sociedade de desperdício recente. Estando Portugal a entrar numa recessão económica que já está a afectar as dinâmicas de consumo, também o desperdício carece de uma nova leitura. Para efectuar esta análise evolutiva (1960-2010) recorreu-se a vários dados de estatísticas nacionais (INE) sobre o consumo doméstico e sobre a produção de resíduos (APA) que permitem verificar o crescimento concentrado de ambos num curto período de tempo no nosso país, bem como as respectivas oscilações. Complementando esta abordagem de dados de carácter factual e objectivo, a pesquisa desenvolvida recorreu a uma análise evolutiva, da mediatização do consumo articulado a questões ambientais, assim como à temática do ‘lixo’ na RTP para um período que vai desde o início das suas emissões regulares – 1957 – até 2010. Por fim, analisa-se um conjunto de dados de opinião pública provenientes dos Eurobarómetros, que oferecem uma série no tempo considerável (desde a integração na União Europeia até à actualidade). Esta comunicação contribui assim para uma reflexão analítica e, empiricamente fundamentada, sobre a evolução dos múltiplos fluxos e circularidades de apropriação, de uso e de desuso de recursos naturais e materiais que sustentam as práticas de consumo e lixo na esfera doméstica.