projeto

Data de início: 2002

Data de conclusão: 2004

Água e Ambiente: Usos e Desperdícios

Os Inquéritos Nacionais (“Os Portugueses e o Ambiente”) realizados pelo OBSERVA em 1997 e 2000 salientaram a importância da água enquanto recurso em várias dimensões particulares. Também o estudo “As Dimensões Mediáticas da Água – evolução e tendências” (Schmidt, 2002) contribuiu para a identificação de um conjunto de representações tipo acerca da forma como a água é tratada nos meios de comunicação social. Se os inquéritos contribuem para captar as representações que a população portuguesa atribui à água enquanto elemento ambiental, o segundo estudo referido constitui-se como uma fonte de informação essencial acerca do papel dos meios de comunicação social na construção dessas mesmas representações.

Entendendo que o papel de um Observatório do Ambiente é o de produzir informação relevante acerca de temáticas ambientais, gerais e particulares, e assumindo que as anteriores investigações deram um contributo fundamental na compreensão da relação entre representações e valores da sociedade portuguesa no que diz respeito ao tema da água, seja do ponto de vista do diagnóstico – o que pensam os portugueses? –, seja do ponto de vista das fontes de informação – que mensagem é transmitida nos media? -, o estudo que agora apresentamos concentra a sua atenção num terceiro elemento cuja importância é central nas sociedades contemporâneas no que diz respeito aos processos de socialização, de integração de novos valores nas práticas sociais e de transformação de hábitos antigos: os processos educativos. E assim, depois das duas questões anteriores, para as quais se verifica justificação, encontra nos objectivos de política de ambiente acima referenciados um segundo motivo para que se lhe procurem respostas.

Por outro lado, a constatação que o Plano Nacional para o Uso Eficiente da Água (2001) ainda não se encontra em fase de implementação, e que contempla uma área programática exclusivamente dedicada à sensibilização, informação e educação com vista à transformação de comportamentos, constituiu-se como factor relevante na escolha desta questão. Assim, ao procurar-se a resposta para esta questão – como aprendem os portugueses? – abre-se um campo vasto de possibilidades de investigação, quer para a compreensão do fenómeno de aprendizagem, quer para a introdução de transformações ao nível da mensagem e da relação que os sujeitos em aprendizagem estabelecem com ela.

Se esta questão é de uma abrangência muito significativa, permitindo desenvolver diversas e complementares linhas de investigação, o projecto procurou centrar-se em duas questões concretas:

i. Como promover situações de aprendizagem colectiva no contexto das vivências da
água numa comunidade local?

ii. Como promover situações de interacção grupal que dinamizem a participação dos
membros dessa comunidade local nos processos de gestão integrada do bem
água?

A procura de respostas para estas duas questões levou-nos a desenvolver uma metodologia aplicada a três estudos de caso no decorrer dos quais procurámos testar formas práticas de dinamizar os propósitos referidos – processos de aprendizagem colectiva e participação – e de o fazer de forma colectiva e integrada no seio de uma comunidade local. Para além deste propósito, interessava-nos verificar o grau de adesão de uma comunidade escolar e de alguns elementos de uma comunidade local a uma proposta deste tipo.

Assim, e para além das pistas para a intervenção propriamente ditas, que são úteis do ponto de vista da condução de políticas à escala das comunidades locais, estas duas questões permitemnos problematizar duas dimensões científicas particulares:

i. A primeira oferece-nos um registo qualitativo das práticas e das representações colectivas que um grupo de pessoas produz sobre uma temática particular num contexto de interacção.

ii. A segunda situa-nos no campo das possibilidades metodológicas que permitem desenvolver uma situação de produção de respostas colectivas a uma questão central de trabalho.

Nesse sentido, este é um projecto com uma componente metodológica forte através do qual procurámos criar condições experimentais que, tendo a escola como campo de experimentação sociológica, correspondessem a uma postura de investigação eticamente orientada e metodologicamente prospectiva.

Um dos valores fundamentais da “nova cultura da água” diz respeito à necessidade de envolver as populações locais nos processos de gestão dos recursos hídricos. Geralmente conhecidos como os princípios da informação e da participação, estes valores afirmam duas necessidades distintas para que se consiga implementar uma “nova cultura da água”: o acesso à informação e a uma cultura ambiental de base por parte dos cidadãos, por um lado, e a possibilidade de participação nos processos de gestão dos recursos hídricos, por outro. Assim, este projecto procura contribuir para esse fim, pressupondo que é possível desenvolver novas bases de uma cultura da água à escala local através de processos de aprendizagem e de intervenção colectivas, procurando testar essa possibilidade em três comunidades locais particulares: Bombarral, Montemor-o-Novo e Odivelas.

 

Publicações associadas ao projecto: “Água e Ambiente – Usos e Desperdícios