projeto

Data de início: 15/03/2021

Data de conclusão: 14/03/2024

CitySelfy – Avaliação da auto-suficiência de recursos naturais à escala local como promotor da transição para a sustentabilidade: o caso do nexus água-energia-alimentos

Mónica Truninger, Rosário Oliveira (Coord.), Luísa Schmidt

O atual padrão desenvolvimento humano tem gerado pressões sem precedentes nos sistemas naturais, desequilibrando os seus ciclos devido à extração, conversão e uso ineficiente de recursos, como Água, Energia e Alimentos (AEA). As cidades estão no centro das atividades humanas, providenciando suporte a mais da metade da população global, contribuindo para o uso insustentável dos recursos através de um efeito multiplicador negativo nas suas cadeias de fornecimento. Há uma exigência crescente para que as cidades se transformem em promotores do desenvolvimento sustentável. A autossuficiência tem sido considerada um fator de sustentabilidade associado à capacidade de um sistema (e.g., país, cidade, edifício) satisfazer as suas necessidades a partir dos seus recursos endógenos. Por exemplo, um edifício pode ter a capacidade (e.g., através de aproveitamento de energia solar) de fornecer os serviços necessários (e.g., aquecimento ambiente), evitando o uso de recursos externos (e.g., gás natural). Os estudos de autossuficiência de alimentos e energia em cidades têm sido desenvolvidos em silo, deixando por esclarecer questões como a competição pelo espaço disponível na cidade para produção de energia ou alimentos, e não incluindo as características dos consumidores. As análises sobre sistemas AEA geralmente não incluem abordagens holísticas. Contudo, o fornecimento de alimento depende de energia na fase de produção, transporte e refrigeração e de água para irrigação e confeção. Este tipo de interconexões é omisso na maioria dos estudos sobre cada um dos sistemas. Atualmente, os serviços de energia e água têm elevadas pegadas carbónicas apesar de existir elevado potencial de descarbonização (e.g., veículos elétricos e renováveis para geração de eletricidade). Perfis de consumidores em função de tipologia de dietas alimentares, padrões de utilização de energia e água ou orçamento disponível são tipicamente excluídos de análises de autossuficiência de recursos. Os impactos das alterações climáticas podem comprometer as ações e soluções a implementar, nomeadamente a diminuição da eficiência de algumas soluções custo-eficazes (e.g., eficiência dos painéis solar PV decresce com altas temperaturas). Estudos recentes sobre o nexo AEA demonstram análises tendencialmente estáticas, limitando assim a sua potencial contribuição para análises prospetivas, essenciais para a formulação de políticas públicas e decisão de investimento em soluções mais eficientes e resilientes. Maximizar a autossuficiência exequível pode representar no longo prazo um ónus para a sustentabilidade, devido à geração de ineficiências e impactos adicionais nos ecossistemas, o que requer análises integradas e prospetivas.

O projeto CitySelfy foca o uso dos recursos AEA dentro dos limites da cidade, explicitando todas as suas interligações, para demonstrar como e em que medida o acesso seguro e equitativo a alimentos saudáveis, a água potável e a serviços de energia pode ser assegurado endogenamente e sem comprometer a sustentabilidade da cidade. A autossuficiência é um conceito útil de gestão de recursos nas cidades, alavancando alterações do paradigma de modelos produtivos centralizados e rurais para modelos descentralizados. O CitySelfy tem como principal pergunta de investigação: em que medida a autossuficiência de AEA pode atuar como um fator determinante para alcançar a sustentabilidade da cidade? A hipótese centra-se na ideia de que a autossuficiência é um fator de sustentabilidade, mesmo em cenários de alterações climáticas, promotora de mitigação e resiliência climática, de emprego e prosperidade.

O CitySelfy irá expandir uma ferramenta de otimização de sistema energéticos, aplicada a Cascais, por forma a incluir: 1) interligações com os sistemas da água e produção de alimentos; 2) novas tecnologias direcionadas para estes sistemas e 3) preferências sociais e perfis socioeconómicos dos seus habitantes. Um inquérito estruturado será aplicado para a recolha de informação acerca dos consumidores locais, e da sua aceitação e disposição para pagar produtos e novas formas de produção (e.g., hidroponia). Esses resultados também informarão os cenários de procura de AEA e o potencial técnico-económico de formas de produção local que serão inseridos na ferramenta de otimização. Serão testados vários níveis de autossuficiência em cenários de alterações climáticas, e avaliados os seus impactos na sustentabilidade da cidade com base em indicadores sociais, económicos e ambientais. Os principais resultados incluem configurações ótimas para os sistemas AEA até 2070 (e.g., energia descentralizada, agricultura urbana, captação de água nas habitações), para diferentes níveis de autossuficiência. Os resultados, discutidos com as partes interessadas, terão impacto sobre o que implementar (inovadores), onde e quando investir (investidores) e como promover (decisores públicos) sistemas AEA neutros em carbono, resilientes ao clima e sustentáveis.


Estatuto: Entidade participante
Financiado: Sim
Entidades: Fundação para a Ciência e Tecnologia
Rede:  Entidade Proponente: Universidade Nova de Lisboa. Unidades de Investigação Adicionais: Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCTUNL), Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade (CENSE/FCTUNL/UNL)