Ana Delicado (Coord.)
A Internet das Coisas (IoT) é uma gama de tecnologias através das quais os objetos do quotidiano estão ligados à Internet. Tem aplicações em inúmeros domínios, tais como saúde, vida assistida, monitorização ambiental, poupança de energia, ou fabrico industrial. A ligação online entre objetos permite ganhos significativos em eficiência, sustentabilidade, saúde pública e comodidade. Contudo, além de comportar os mesmos riscos que outras TIC (proteção e segurança de dados, privacidade e vigilância, rastreio e manipulação), implica riscos adicionais, uma vez que dispositivos pirateados ou com mau funcionamento podem pôr em perigo os utilizadores, os trabalhadores e a comunidade. O objetivo central deste projeto é compreender como os atores sociais (produtores, consumidores, reguladores) se envolvem com um novo tipo de tecnologia (IoT), desde o nível macro dos imaginários sociotécnicos até ao nível micro das práticas de utilização. Por um lado, o nosso objetivo é explorar as narrativas coletivamente mantidas e institucionalmente estabilizadas que presidem à elaboração e governo deste tipo de tecnologia digital, os discursos e imagens em torno das suas possibilidades, bem como os seus riscos, e avaliar se o envolvimento a montante, o co-design e a governação inclusiva estão a ser incorporados no desenvolvimento e disseminação da IoT. Por outro lado, iremos examinar como os utilizadores da Internet das coisas incorporam esta tecnologia nas suas vidas quotidianas, como se apropriam e interagem com os objetos, como lhes atribuem significados, como desenvolvem novas competências, e como transformam práticas. O projeto centrar-se-á nos usos domésticos da IoT: automação doméstica, bens de consumo inteligentes (aparelhos domésticos e pessoais, brinquedos), dispositivos de monitorização utilizados em pessoas e animais de estimação, assistentes digitais, etc.
No que diz respeito aos imaginários sociotécnicos, este projeto propõe-se abordar as seguintes questões: – Como é que a IoT é visionada pelos decisores políticos, reguladores, cientistas, empresas, arquitetos e engenheiros, organizações da sociedade civil e cidadãos? – Quais são as possibilidades, benefícios e impactos desta tecnologia sobre a economia e a sociedade? – Quais são os riscos percebidos da IoT? – Como é que os desenvolvimentos tecnológicos da IoT são regulados, incentivados ou condicionados por organismos supranacionais e nacionais de elaboração de políticas? – Que diálogo ou relações são estabelecidos entre atores sociais no que respeita à IoT? – Que preocupações, necessidades, interesses são expressos pelos cidadãos/consumidores em relação à IoT?
No que diz respeito à adoção e utilização da IoT, este projeto propõe-se abordar as seguintes questões: – Que tecnologias da IoT estão a ser adotadas a nível doméstico e quais estão a ser rejeitadas? – Que agregados familiares adotam e usam dispositivos da IoT? – Como é que as tecnologias da IoT estão a ser utilizadas em casa e como é que as utilizações variam de acordo com o sexo, idade ou papel familiar? – Que imaginários sociotécnicos e narrativas os utilizadores constroem em torno da utilização das tecnologias da IoT e do seu papel na esfera doméstica? – Que impacto têm as tecnologias da IoT sobre as práticas de consumo, a vida quotidiana e as dinâmicas familiares? – Como são avaliados, controlados, prevenidos ou mitigados os riscos da IoT na esfera doméstica?
